Ontem tirei a noite pra ler um pouco. Resolvi pegar na estante meu livro-arma, 1001 discos para ouvir antes de morrer e agora, exatamente vinte e quatro horas após tê-lo aberto, posso dizer com certeza que acertei na escolha. Lendo o prefácio do co-fundador da Rolling Stone, Michael Lydon, tive a sensação de que não estava sozinha no mundo. Bom, é claro que não estou. Mas não me lembro da última vez em que me senti tão musicalmente compreendida. Era como se eu pudesse dialogar com cada parágrafo e de repente ia concordando com cada palavra, me sentindo enredada (no bom sentido) pelo texto que o tal Lydon escreveu em 2005. Mais adiante, na primeira resenha do livro, Frank Sinatra. O disco, In the wee small hours (1955), foi lançado quando o cantor tinha acabado de romper com a atriz Ava Gardner. Todas as faixas têm um quê de dor de cotovelo, saudade, sofrimento e tudo mais que pode sentir alguém que deixou de ser dois para novamente ser um. Ao som de I'll be around, pensei num outro álbum que 1001 discos para ouvir antes de morrer me colocou no caminho. Dummy, do Portishead, tem letras que falam de rompimento assim como o disco de Sinatra, mas a perspectiva é diferente. As músicas do primeiro álbum da banda britânica são carregadas de uma melancolia sombria e sensual, que parece ter o poder de apagar violentamente um passado que faz sofrer. In the wee small hours não. A melancolia é bela, como uma espécie de "alegria triste" que merece atenção, como canta Sinatra em Glad to be unhappy, "When it's someone you adore/ it's a pleasure to be sad".
Da primeira à décima sexta faixa, o disco é encantador. Com This love of mine e o fim do álbum, comecei a me lembrar do texto de Lydon, na parte em que ele fala que alguns discos nos acompanham por semanas, meses e até anos. Acho que os que nos acompanham por muitos anos vão se juntando ao nosso tempo de vida e ocupando um lugar único. Algo assim, meio mágico, de modo que o primeiro a gente nunca esquece. Meu primeiro foi o Ventura, do Los Hermanos, que tá guardadinho ali na estante e entra em cena sempre que eu preciso me lembrar de mim. E cada momento que está por vir, trará consigo guitarras frenéticas ou um piano suave, conforme a dança, o humor, a companhia. In the wee small hours era o que eu precisava para hoje. Meu primeiro encontro com "a voz" e passo adiante. Tem razão de ser.
Para quem não ouviu ainda:
Nenhum comentário:
Postar um comentário